Como apresentado no título, vamos analisar o caso do desaparecimento de Julio López.
Jorge Julio López, pedreiro de profissão, nasceu em Buenos Aires em 1929, era militante peronista, e ficou preso de 1976 a 1979 em um dos 600 Centros Clandestinos de Detenção criados e mantidos pelo regime militar argentino(conhecido como Processo de Reorganização Nacional) em sua guerra de extermínio contra a subversão.
Foi assim que Julio López teve a infelicidade de conhecer Miguel Etchecolatz, que era na época o braço direito do então General Ramón Camps, um dos principais generais da ditadura e responsável direto por muitos seqüestros de estudantes e militantes políticos de esquerda. Etchecolatz ocupava o importante cargo de Chefe de Polícia da Província de Buenos Aires.
Com o fim da ditadura em 1985, Etchecolatz foi inicialmente condenado a 23 anos de prisão acusado de ter realizado 91 torturas. Contudo, em 1987 a Corte Suprema anulou a sentença apoiada na Lei de Obediência Devida, aprovada durante o governo de Raúl Alfonsin. A Lei absolvia os criminosos militares de culpa devido à obediência aos superiores.
Em 1998, com a chegada ao poder de Menen (que concedeu indultos aos militares ainda presos, inclusive a Aldo Rico), Etchecolatz estava tão seguro de sua impunidade que publicou um livro, La otra campana del Nunca Más, defendendo seus atos como a ação de um cristão responsável, que tinha que combater a subversão do ateísmo comunista que ameaçava a Argentina "livre".
Em 2003 as leis “Ponto Final” e “Obediência Devida” e os indultos de Menem foram anulados na justiça e no congresso com o apoio do novo presidente Kirchner. Em 2004 Etchecolatz pegou 7 anos pelo crime de roubo de bebês de prisioneros politicos, mas Etchecolatz foi mandado a cárcere privado, sob protestos veementes dos organismos defensores dos direitos humanos na Argentina.
Assim, em 2006 as leis de proteção aos criminosos da ditadura argentina tinham sido definitivamente derrubadas e Etchecolatz estava sendo novamente julgado pelo crime de genocídio, no dia 28 de junho de 2006, Julio López era uma das testemunhas de acusação.
Jorge López desapareceu no dia 17 de setembro de 2006 no caminho para o Tribunal, onde, naquele dia, prestaria testemunho contra Miguel Etchecolatz, acusado de cometer crime de tortura durante o regime militar. Especulava-se que López poderia ter tido um choque emocional por se ver na iminência de ter que recordar as dores do passado e desistido de participar do julgamento.
López já havia dado seu testemunho à Justiça em outras ocasiões. Aí, relatou que havia sido torturado pelo próprio Etchecolatz e que viu com seus próprios olhos o casal Patrícia DellOrto e Ambrosio DeMarco serem friamente assassinados por Etchecolatz. Segundo López, Patrícia foi violentada e implorou para não ser morta dizendo que queria criar seus filhos. Patrícia e Ambrosio foram mortos com tiros disparados a queima roupa na cabeça por Etchecolatz.
Contudo, apesar do sumiço, a Justiça resolveu julgar Etchecolatz no mesmo dia e o condenou a prisão perpétua. López ainda seria convocado para testemunhar contra cerca de "60 policiais e militares" processados como torturadores. A suspeita do sumiço recai, evidentemente, sobre Etchecolatz e estes militares.
Inicialmente, contava-se com a possibilidade de López ter mesmo tido um ataque emocional e desistido de depor. Esperava-se encontrá-lo em algum hospital ou clinica de recuperação, ou, ainda, em um lugar qualquer esperando o tempo passar. Mais tarde, desesperado e sentindo a pressão popular sobre suas costas, o governo ofertou uma recompensa de 20 mil pesos por uma notícia segura sobre o paradeiro de Jorge López.
Contudo, o ex-militante está desaparecido, e sobre as testemunhas dos crimes dos militares paira o medo de sumirem como ele.
A questão que deixo a todos companheiros(as) seria a seguinte: Como Julio López poderia ter desistido do testemunho por causa de um choque emocional? Sendo que ele já tinha testemunhado antes? Seria ameaças?
Podemos formular várias perguntas em cima de tal fato, mas o caso é que Julio López nunca deixaria de depor contra os torturadores, ainda mais sendo o testemunho final para condenar a pessoa que te torturou. Ele estava fazendo a justiça, por ele e pelas pessoas que sofreram com ele.
Venho contar o caso de Julio López e também fazer uma homenagem a essa pessoa que tanto lutou pela democracia de seu país. Seu valor está estampado nas manifestações e na memória do povo, mesmo que tenha passado tantos anos de seu desaparecimento, o povo exalta sua figura e não deixa que caia em esquecimento um caso tão infeliz e tão recente em suas vidas.
Encaminho as vocês manifestações pela procura de Julio López e o vídeo do testemunho:
http://www.youtube.com/watch?v=2P6gRlceHKI&feature=player_embedded
http://www.pstu.org.br/internacional_materia.asp?id=5799&ida=0
http://casapueblos-jorgejuliolopez.blogspot.com/
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u101479.shtml
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,AA1337835-5602,00.html
http://www.lustosa.net/noticias/57854.php
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